Em uma carta aberta aos fiéis maranhenses, bispos da Igreja
Católica de todas as dioceses do estado, entre eles o bispo da Diocese de
Coroatá, Dom Sebastião Bandeira Coelho, reunidos no último dia 19, domingo, na
cidade de Pinheiro, convocam para uma caminhada silenciosa no próximo dia 2 de
fevereiro e fazem críticas ao Maranhão, que vive atualmente uma crise de violência
e no sistema carcerário.
O texto, que repercutiu em toda a imprensa (estadual e nacional),
admite que o estado governado por Roseana Sarney (PMDB) aumentou sua riqueza, mas faz
menção à sua marcante desigualdade social.
“Vivemos num Estado que erradicou a febre aftosa do gado,
mas que não é capaz de eliminar doenças tão antigas como a hanseníase, a
tuberculose e a leishmaniose”, diz trecho da carta. “É verdade que a riqueza no
Maranhão aumentou. Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a
desigualdade social. Os índices de desenvolvimento humano permanecem entre os
mais baixos do Brasil”, continua.
Leia a íntegra da carta abaixo:
Ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade
“Justiça e paz se abraçarão” (Sl 85,11)”
Ainda estão vivas em nós a forte emoção e dor, provocadas
pelos últimos acontecimentos no Estado do Maranhão – a morte violenta da Ana
Clara, criança de seis anos que faleceu após ter seu corpo queimado nos ataques
a ônibus; os cruéis assassinatos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas; o
clima de terror e medo vivido na cidade de São Luís.
A nossa sociedade está se tornando cada vez mais violenta. É
nosso parecer que essa violência é resultado de um modelo econômico-social que
está sendo construído.
A agressão está presente na expulsão do homem do campo; na
concentração das terras nas mãos de poucos; nos despejos em bairros pobres e
periferias de nossas cidades; nos altos índices de trabalhadores que vivem em
situações de exploração extrema, no trabalho escravo; no extermínio dos jovens;
na auto-destruição pelas drogas; na prostituição e exploração sexual; no
desrespeito aos territórios de indígenas e quilombolas; no uso predatório da
natureza.
Esta cultura da violência, aliada à morosidade da Justiça e
à ausência de políticas públicas, resulta em cárceres cheios de jovens, em sua
maioria negros e pobres. O nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao
contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos
devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas
que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro.
Vivemos num Estado que erradicou a febre aftosa do gado, mas
que não é capaz de eliminar doenças tão antigas como a hanseníase, a
tuberculose e a leishmaniose.
É verdade que a riqueza no Maranhão aumentou. Está, porém,
acumulada em mãos de poucos, crescendo a desigualdade social. Os índices de
desenvolvimento humano permanecem entre os mais baixos do Brasil.
Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que
nós queremos! Como discípulos missionários de Jesus, estamos comprometidos,
junto a todas as pessoas de boa vontade, na construção de uma sociedade
fraterna e solidária, sem desigualdades, sem exclusão e sem violência, onde a
“justiça e a paz se abraçarão” (Sl 85,11).
A cultura do amor e paz, que tanto almejamos, é um dom de
Deus, mas é também tarefa nossa. Nós, bispos do Maranhão, convocamos aos fieis
católicos e a todas as pessoas que buscam um mundo melhor a realizarem um gesto
concreto no próximo dia 2 de fevereiro, como expressão do nosso compromisso com
a justiça e a paz. Neste dia – Festa da Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e
de Nossa Senhora das Candeias –, pedimos que se realize em todas as comunidades
uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração. Às pessoas
comprometidas com esta causa e às que não puderem participar da celebração
sugerimos que acendam uma vela em frente à sua residência, como sinal do seu empenho
em favor da paz.
Invocando a proteção de Nossa Senhora, Rainha da Paz,
rogamos que o Espírito nos oriente no sentido de assumirmos nossa
responsabilidade social e política para construirmos uma sociedade de irmãs e
irmãos que convivam na igualdade, na fraternidade e na paz.
Centro de Formação de Mangabeiras, Pinheiro – MA, 15 de
janeiro de 2014
Dom Armando Martin Gutierrez
Dom Carlo Ellena
Dom Élio Rama
Dom Enemésio Lazzaris
Dom Franco Cuter
Dom Gilberto Pastana de Oliveira
Dom José Belisário da Silva
Dom José Soares Filho
Dom José Valdeci Santos Mendes
Dom Sebastião Bandeira Coêlho
Dom Sebastião Lima Duarte
Dom Vilsom Basso
Dom Xavier Gilles
Dom Carlo Ellena
Dom Élio Rama
Dom Enemésio Lazzaris
Dom Franco Cuter
Dom Gilberto Pastana de Oliveira
Dom José Belisário da Silva
Dom José Soares Filho
Dom José Valdeci Santos Mendes
Dom Sebastião Bandeira Coêlho
Dom Sebastião Lima Duarte
Dom Vilsom Basso
Dom Xavier Gilles