quarta-feira, 4 de junho de 2014

Qual o futuro que queremos para a política brasileira?

Por Simplicio Araújo.

Em maio participei de audiência com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), que versa sobre a restrição de doação de empresas em campanhas eleitorais.

Na reunião estavam presentes representantes da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e os colegas deputados federais Manuella Davila, Jandira Fregralli, Henrique Fontana e Rubens Bueno.

Ouvimos a posição do ministro sobre o processo que está em suas mãos para vistas e posterior voto. Tentar sensibilizá-lo com nossos argumentos sobre a nocividade das altas doações de empresas e a falta de limite para doação de pessoas físicas, conforme defendemos na proposta de reforma política Eleições Limpas.

Somos parte da frente ou coalizão parlamentar pela reforma política democrática e Eleições Limpas. Um grupo de deputados e senadores, em parceria com organizações sociais, CNBB, MCCE e União Nacional de Estudantes (UNE) tem clara visão que a política brasileira precisa de uma mudança urgente no sistema eleitoral vigente.

Compreendemos e corroboramos com a mensagem que os brasileiros deixaram durante os protestos em junho do ano passado. A população falou em bom e alto tom que a classe política NÃO REPRESENTA o povo brasileiro.

Entristece ver que grande parte dos políticos está muito distante da população brasileira. A maioria representa simplesmente o poder econômico, o dinheiro que se gasta em campanha. Altas somas que permitem acesso aos mandatos executivos e legislativos país afora. Mandatários que estão de costas para as pautas das ruas e do povo brasileiro. Políticos que cumprem o mandato com uma única preocupação: conseguir mais dinheiro para continuar no mandato.

Assusta como alguns se endividam ou comprometem a liberdade do exercício do mandato em troca de milhões gastos para mascarar a capacidade ou idoneidade de quem está por trás de tanto dinheiro. Afinal, qualquer conta de feira comprova que é impossível recuperar tais valores em quatro anos.

Quem gastaria tanto a ponto de ter que partir para artifícios ilegais buscando reaver recursos ou pagar as dívidas de campanha? Ou pior, colocar um mandato de representatividade popular a serviço de empresas ou de fins escusos?

Como já esperávamos, nenhuma regra de financiamento de campanha será alterada. Teremos mais um “vale tudo” nas disputas eleitorais em 2014. O STF deve acatar a inconstitucionalidade das doações de empresas para as eleições, talvez valendo para o pleito de 2016.

Teremos este ano grande possibilidade de produzir uma safra ainda pior que a atual de políticos no Brasil em virtude das anomalias do sistema eleitoral vigente, conforme profetizou o saudoso Ulisses Guimarães.

2014 será uma queda de braços entre os políticos que não permitiram nenhuma mudança nas regras atuais e a população que foi às ruas bradando por mudanças e renovação na política. Para a maioria da classe política não interessa nenhuma alteração nas regras do jogo. Mas Ainda ecoa a força das reivindicações e a insatisfação popular com a atual situação.

A conhecida passagem bíblica nos ensina que ao invés de separar o joio do trigo, devemos conviver com as diferenças, e, quando oportuno, separar o que lhe convém daquilo que não presta. Dependendo da maioria da classe política, já sabemos de sua opção pelo aumento do joio. Cabe a nós aumentar a quantidade e a qualidade do trigo.

SIMPLÍCIO ARAÚJO
DEPUTADO FEDERAL
PRESIDENTE ESTADUAL DO SOLIDARIEDADE